Vícios x Poder de Escolha

Nos últimos anos, o Brasil tem passado por mudanças significativas na regulamentação de atividades antes proibidas, como as apostas esportivas. Embora essa liberação tenha sido justificada pela possibilidade de aumentar a arrecadação de impostos, o impacto social dessa decisão não foi plenamente avaliado. O vício em jogos de apostas, por exemplo, tem se tornado um problema crescente, especialmente entre os jovens.

Em 2024, 35% dos jovens brasileiros que abandonaram a faculdade optaram por usar seus recursos em plataformas de apostas esportivas. Esse dado alarmante levanta questões sobre o que está sendo priorizado por essa geração e as consequências a longo prazo para o desenvolvimento pessoal e social. O vício em apostas é comparável ao vício em drogas, pois envolve o mesmo mecanismo de recompensas no cérebro, que libera substâncias químicas que viciam o indivíduo na expectativa de “ganhar”.

Essa dependência não afeta apenas o indivíduo, mas também a sociedade como um todo. Um exemplo claro disso é o uso indevido do dinheiro de programas de assistência social, como o Bolsa Família, para apostas. Em vez de suprir as necessidades básicas, muitas pessoas acabam utilizando esse dinheiro em plataformas de jogos, gerando um ciclo de pobreza e dependência.

Além disso, a influência de personalidades midiáticas nas redes sociais tem exacerbado o problema, promovendo plataformas de apostas sem regulamentação adequada. Muitas dessas atividades, além de ilegais, são usadas para lavagem de dinheiro, um problema que afeta tanto a economia quanto a segurança pública.

A questão central que esse cenário suscita é a da liberdade. O que significa ser livre? Muitas vezes associamos liberdade à capacidade de escolha, mas o que acontece quando essa escolha é corrompida por vícios e dependências? O vício, seja em jogos, drogas ou qualquer outro comportamento compulsivo, é uma forma de prisão, ainda que mental. Ele consome tempo, dinheiro, energia e, em última análise, a capacidade de viver plenamente.

A verdadeira liberdade, portanto, reside na capacidade de escolher conscientemente o que é melhor para nós, sem nos deixar levar pelas armadilhas que podem nos aprisionar. Aqui, entra o conceito da Vitamina N – a capacidade de dizer “não”. O poder de rejeitar aquilo que pode prejudicar nossa liberdade e nossa saúde mental é essencial para manter a autonomia. Dizer “não” para vícios, compulsões e influências negativas é um ato de autocuidado e preservação.

Na vida, somos constantemente expostos a escolhas que podem nos levar à dependência. A capacidade de discernir entre o que é saudável e o que pode nos aprisionar é fundamental para manter nossa liberdade. Essa habilidade de dizer “não” é uma ferramenta poderosa para viver de maneira equilibrada. Podemos e devemos recusar aquilo que nos prende e nos desvia dos nossos valores mais profundos.

E não precisamos recorrer a drogas, jogos ou outros vícios para termos momentos de lazer e diversão. A vida oferece uma infinidade de opções saudáveis e gratificantes. Explorar a natureza, praticar esportes, fazer trilhas, viajar, ler, conviver com amigos e familiares, ou até participar de atividades culturais são formas ricas de aproveitar a vida sem recorrer a comportamentos destrutivos. Esses momentos trazem recompensas verdadeiras, que preenchem a alma e não carregam as armadilhas dos vícios.

Um aspecto crucial para se manter longe dessas armadilhas é a escolha das amizades. Estar cercado por pessoas que compartilham de bons valores e que encorajam escolhas saudáveis pode fazer toda a diferença. Não devemos ter medo de nos posicionar, de dizer “não” quando algo vai contra nossos princípios. Muitas vezes, ao sermos essa voz que orienta, acabamos ajudando outros a enxergar o perigo e se afastar de comportamentos prejudiciais. Como exemplo, jovens que fazem escolhas baseadas em valores sólidos têm mais chances de resistir a influências negativas e levar uma vida plena e equilibrada.

Portanto, a verdadeira liberdade não é apenas a capacidade de fazer o que se deseja, mas a sabedoria de fazer o que é melhor para si e para o futuro. A vida é cheia de possibilidades, e cabe a cada um de nós escolher caminhos que nos conduzam à realização, à paz e à verdadeira felicidade, sem nos prendermos a comportamentos que podem nos roubar nossa liberdade.
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Rafael Pacios

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